E como Alice no País das Maravilhas de Tim Burton agora está na moda, tenho visto vários produtos, inclusive de decoração, inspirados na história. Mas eu precisava dizer: se inspirar em algo não é a mesma coisa que fazer um produto ou decoração temáticos… mas como assim?
Vamos começar por onde o autor se inspirou… fiquei horas passeando no tour virtual da Universidade de Oxford, onde ele estudou e lecionou por muito tempo. E onde conheceu e conviveu com a verdadeira Alice, filha do reitor da mesma universidade na época. Tudo indica que o buraco em que a Alice cai seguindo o coelho é um símbolo da escadaria dos fundos da Christ Church. Aliás, é a mesma escadaria de Howgarts, de Harry Potter.
Imagino Carroll passeando com Alice por aqui... e contando as historinhas que ele contava. Um caminho sem fim, em que Alice ia descendo, descendo, e que levava a um jardim lindo, repleto de fantasias.
Carroll usou a arquitetura já existente para dar vida à sua metáfora de transição entre o mundo real e o imaginário. Sinal que podemos fazer o inverso: construir ou decorar pensando em outros significados que vão além da funcionalidade.
Lembram desta escada do Hudson Hotel? O conceito foi justamente o de fazer uma transição entre o mundo caótico de Nova Iorque e a paz que está dentro do hotel. (Clique na imagem para ver o post completo sobre o hotel)
As personagens são um capítulo à parte. Todas super complexas e muito bem trabalhadas, são excelente inspiração. Mas isso não significa que temos que ter objetos que remetam explicitamente a elas.
Vamos a Rainha Vermelha por exemplo.
Reportagem:
Na realidade, ela é uma mistura entre a Rainha de Copas e a Rainha Vermelha.
Foram dois livros que deram origem aos filmes de Alice no País das Maravilhas. No primeiro aparece a Rainha de Copas, relacionada ao jogo de cartas. No segundo livro, Through the Looking-Glass, surge a Rainha Vermelha, que é a rainha de um jogo de xadrez. É muito comum a confusão entre as duas, mas no filme de Tim Burton as duas são uma só.
O tamanho desproporcional da sua cabeça é uma representação do seu egocentrismo e insensibilidade. E, coincidência ou não, a sua frase favorita é “Off with his/her head!” (Cortem sua cabeça!). E esta rainha está rodeada de súditos que necessariamente tem aberrações similares à da sua cabeça.
Gostei muito do Castelo da Rainha Vermelha. Sempre rodeado de pouca luz, abusando do próprio vermelho, do preto e branco para criar o clima perfeito para seu estilo.
O que mais me chamou a atenção no castelo foi o formato imperfeito do coração na fachada. A assimetria pode ser uma forma de remeter à imperfeição, ou à falta de um coração verdadeiro naquele lugar.
O interior do castelo é repleto de corações, de vermelho, preto, dourado e algum branco. Tudo muito luxuoso e rebuscado.
Este seria um belo quarto inspirado nessa personagem. Os arabescos trazem o luxo à combinação de cores da rainha.
Esta sala também tem a cara dela. Repare como a luminária pode remeter à sua coroa.
Esta sala pode perfeitamente ter sido feita pensando na rainha (sem) coração. Até o quadriculado presente no tapete e na mesa de centro poderiam ser referências aos pisos de tabuleiro de xadrez do castelo.
Já a Rainha Branca…
... é a irmã mais nova da Rainha Vermelha. Apesar de ter feito votos de bondade, guarda as unhas e o batom vermelhos como símbolo do seu pinguinho de agressividade.
Seu castelo é todo branco, com alguns detalhes em azul turquesa. E, ao contrário da irmã que rodeia o seu com um rio de sangue, a Rainha Branca tem árvores floridas para dar vida à sua casa.
Reparei neste piso de mármore na hora. Olha como ele é super liso e brilhante, refletindo as árvores e a grade. Lindo. E o branco é realmente a cor que transmite a pureza com mais sucesso. As flores são como cerejeiras, de um rosa claríssimo, lindas!
Eu faria um quarto assim pra ela. Bem branco, com detalhes de luxo e também com toques de turquesa.
E olha que lugar mais flutuante. Assim como os movimentos das mãos da Rainha Branca.
Eu acho esta sala a cara da Rainha Branca. A predominância do branco, sua cor de origem, com pitadas de azul turquesa, pink e vermelho que dão o toque de vida que ela tem.
Ou você prefere a brincadeira de texturas e comprimentos em uma sala toda branca? Para completar o conceito, aqui faltou um vaso vermelho sangue, né?
E, claro, o Chapeleiro Maluco pode ser muuuuuita fonte de inspiração.
O figurino e maquiagem super especiais deste personagem mostram muito de sua personalidade. Aliás, repare nos detalhes dos tecidos e acabamentos de sua roupa e chapéu. Lindíssimos. E também podem inspirar os tecidos de sua casa.
O Chapeleiro é alegre e divertido, mas se transforma em segundos em louco e agressivo. Ele é super carinhoso, inteligente mas totalmente sem lógica. Sem dúvida o cabelo laranja ajuda a transitar entre esses extremos…
O rosa e o laranja fazem uma combinação forte, que fica entre o agressivo e o feminino, carinhoso.
Eu tomaria um chá com Johnny Depp aqui. O tapete geométrico (representando a lógica), mas de cores desordenadas (como a cabeça do chapeleiro).
Primeiro porque o Chapeleiro anda sobre ela...
... e eu fiquei louco de vontade de ter uma mesa que eu possa subir que nem ele.
E segundo porque adoro a descombinação de louças e cadeiras. Cada peça de uma cor e estilo. Usaria esta abordagem para receber amigos em casa facilmente.
Além desses personagens sensacionais, algumas passagens da história de Alice no País das Maravilhas também podem inspirar um monte.
O trabalho gráfico que se repete na parede e no teto me faz sentir muito como a Alice caindo no buraco do coelho, sem saber o que está em cima ou embaixo, perdendo totalmente o senso de posição.
E ordens escritas nas paredes me lembram os bolinhos crescedores e encolhedores da Alice - escritos "Eat Me".
Importante avisar que devemos esfregar bem as mãos.
A brincadeira com proporções é pura inspiração no estica encolhe de Alice.
E olha como podemos trazer o jardim de flores de Alice pra dentro de casa - no tapete, na almofada e nos banquinhos de tronco.
Entendeu o que é se inspirar e como isso é diferente de fazer um ambiente temático? Em que a referência é mais sutil e passa por uma releitura de quem faz a decoração. Nada é tão óbvio quanto reproduzir a imagem de Alice em uma almofada, ou do Chapeleiro em um bule de chá. Nada contra, mas aí não é decoração…
E você conhece algum ambiente que possa ter se inspirado no Coelho, ou na Lagarta, ou na própria Alice? Um jardim estilo Wonderland? Manda pra gente!
Reportagem:
Casa da ID&A ( Inspiração , Design & Arte)